7 de jun. de 2009

Sempre "ELES"...


Esta semana me deparei com uma cena, no mínimo intrigante, que me conduziu a um questionamento sobre o que é desonestidade e quando ela se manifesta.
Era uma tarde quente, com um sol de verão, céu azul e muita movimentação nas ruas de Iúna.
Estava eu, seguindo em direção ao meu lar, quando percebi um motorista estacionando seu carro luxuoso em frente à escola Henrique Coutinho, bem ao lado de uma placa alertando que era proibido estacionar naquele local.
Ignorando as leis de trânsito, o carro foi estacionado rapidamente por seu motorista habilidoso, com provavelmente muitos anos de habilitação, pois o mesmo aparentava uns 50 anos. O motorista desceu do carro e pôs-se a chutar “discretamente” aquela indefesa placa. Aos poucos, o ferro que sustentava o aviso rendeu-se aos fatais chutes e desprendeu-se do chão. O motorista então, sem nenhuma timidez, arrancou a placa do buraco e virou-a de frente para a árvore e de costas para a rua, de forma que qualquer pessoa que passasse no local não pudesse identificar que placa era aquela.
Voltando ao veículo, o motorista o trancou e saiu tranquilamente para resolver seus afazeres no comercio próximo.
Como lá estava eu, em frente à escola, à espera de um amigo que havia marcado um encontro comigo, pude ter o privilégio de testemunhar a volta do “honesto” motorista ao seu carro luxuoso.
Ele retornou à sua placa-vitima, arrancou-a do chão novamente e colocou na posição correta. Um segundo homem, que estava vindo na calçada, aparentemente conhecido do motorista, perguntou o que ele estava fazendo com aquela placa na mão. E o motorista, aos risos, respondeu que havia mudado a posição da placa para evitar ser flagrado estacionado em local proibido, mas que agora, que já estava saindo, poderia colocá-la da forma correta.
Naquele instante, meu primeiro impulso foi me aproximar e dizer a vergonha de ter testemunhado um senhor, de cabelos grisalhos, que provavelmente é pai (ou avô), ter um comportamento tão desonestamente malandro.
Mas, titubeei, achando melhor seguir meu caminho e guardar aquela lição, registrada por meus olhos, embaixo de um sol escaldante.
Em tempos de crise, é fácil ouvir discursos ardorosos condenando a corrupção, os maus políticos, os empresários com esquemas duvidosos, os anti-éticos, os laranjas e desonestos como se os mesmos fossem sempre “eles” e nunca “nós”.
Aquela cena me fez perceber que a corrupção é uma característica latente em todos, o que separa o joio do trigo é a consciência, a educação e a responsabilidade moral de cada um.
Aquele senhor, provavelmente já reclamou da crise do governo, dos maus políticos da região, de desonestidades de outrem, mas não percebe que para chutar uma placa, mudá-la de posição, ignorar a lei de transito, em público e em beneficio próprio é necessário uma boa dose de desonestidade também.

Afinal, ninguém começa roubando um banco, sem antes ter treinado com a caneta do coleguinha, o isqueiro no supermercado, a omissão do troco errado ou a indefesa placa de transito.
Lucianne Gomes Mariano.
Academia Iunense de Letras.